Alimentação e Saúde
Micróbios transformam CO2 em proteínas e vitaminas
por Valéria Scavone
Alimentados por energia renovável, micróbios transformam CO2 em proteínas e vitaminas.
A transformação de dióxido de carbono em proteínas e vitaminas por micróbios, alimentados por energia renovável, pode representar o futuro da alimentação sustentável.
Cientistas na Alemanha desenvolveram uma tecnologia que permite a produção de proteínas e vitamina B9 a partir de hidrogênio, oxigênio e CO2, utilizando processos biotecnológicos inovadores.
Essa solução pode, um dia, chegar aos nossos pratos, oferecendo uma alternativa viável e ecológica para a produção de alimentos.
Como Funciona a Tecnologia
Essa nova abordagem utiliza micróbios em um processo semelhante à fermentação, como na produção de cerveja.
No entanto, em vez de usar açúcar, os micróbios recebem gás e acetato como fonte de alimentação.
Segundo Largus Angenent, pesquisador da Universidade de Tübingen, na Alemanha, o sistema de fermentação alimenta leveduras com acetato para produzir proteínas e vitamina B9, essencial para funções corporais como o crescimento celular e o metabolismo.
Energia Renovável e Alimentação Limpa
Essa tecnologia se destaca por funcionar com energia limpa. Os cientistas obtêm o hidrogênio e o oxigênio para alimentar os micróbios por meio da eletrólise da água, utilizando eletricidade de fontes renováveis, como a energia eólica.
Esse processo cria um ciclo sustentável, reaproveitando o CO2 na produção de alimentos e reduzindo significativamente a pegada de carbono.
Benefícios nutricionais das proteínas produzidas
As proteínas geradas pelos micróbios oferecem valores nutricionais impressionantes.
Em comparação com fontes tradicionais de proteína, como carne bovina, suína e peixe, a levedura produzida nesse processo possui níveis de proteína mais elevados.
De acordo com os pesquisadores, 85 gramas de levedura fornecem cerca de 61% das necessidades diárias de proteína, superando a carne e outras fontes vegetais, como lentilhas.
Além disso, apenas 6 gramas de levedura seca são suficientes para suprir a necessidade diária de vitamina B9, também conhecida como folato.
Essa vitamina desempenha um papel crucial no crescimento celular e no metabolismo, sendo essencial para a saúde geral.
Desafios a serem superados
Apesar dos resultados promissores, ainda existem obstáculos a vencer antes de colocar esse produto nas prateleiras dos supermercados.
Por exemplo, a levedura precisa passar por tratamentos para remover compostos que podem aumentar o risco de gota quando consumidos em excesso.
Mesmo após o tratamento, a levedura continua oferecendo 41% da necessidade diária de proteína, o que a torna comparável a outras fontes alimentares.
Solução para problemas globais
A tecnologia desenvolvida pelos pesquisadores alemães aborda diversos desafios globais, como a segurança alimentar, a conservação ambiental e a saúde pública.
Ao utilizar CO2 e energia renovável, a produção dessas proteínas e vitaminas ajuda a reduzir as emissões de carbono, além de liberar terras agrícolas para conservação ambiental.
Isso pode ser especialmente benéfico em regiões onde a produção de alimentos é limitada por condições climáticas ou falta de recursos.
Impacto nos agricultores
Angenent destaca que essa inovação não pretende substituir os agricultores, mas sim ajudá-los a focar na produção de vegetais e safras de maneira mais sustentável.
Além disso, essa tecnologia pode ser uma solução viável para ajudar nações em desenvolvimento a combater a escassez de alimentos e deficiências nutricionais, fornecendo uma fonte confiável de proteínas e vitaminas.
Próximos passos
Antes que essa tecnologia esteja amplamente disponível, ainda há muito trabalho a ser feito. Os pesquisadores planejam otimizar a produção, garantir a segurança alimentar e conduzir análises econômicas para avaliar o interesse do mercado.
No entanto, a perspectiva de produzir vitaminas e proteínas sem o uso de terra, de maneira sustentável e vegana, é extremamente promissora e pode atrair consumidores preocupados com a saúde e o meio ambiente.
Conclusão
A produção de proteínas e vitaminas a partir de CO2 e energia renovável representa uma revolução no campo da biotecnologia e da alimentação.
Com potencial para combater a fome, melhorar a nutrição e reduzir o impacto ambiental da agricultura tradicional, essa tecnologia pode ser uma peça-chave para alimentar o mundo de forma mais sustentável e saudável.
| via Cell Press
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