Comportamento
A última refeição dos condenados à morte
por Valéria Scavone
Intitulada “No Second” a série do fotógrafo Henry Hargreaves retrata o último desejo comestível dos assassinos em série condenados à morte nos Estados Unidos.
A iniciativa de fotografar a última refeição de criminosos surgiu quando Henry descobriu que haveria a possibilidade do desejo derradeiro ser abolido pelas autoridades americanas. O projeto veio quando o fotógrafo percebeu que poderia se identificar com estas pessoas de acordo com o que elas tinham pedido antes de irem para o corredor da morte.
Dentre todos os pedidos, o que mais impressionou Henry foi que grande parte dos condenados pediu um prato com frituras. Chamados de “comfort food”, os pratos com fritura trazem, de certa forma, algum tipo de conforto para estas pessoas que estão nos últimos minutos de suas vidas.
Nos Estados Unidos a pena de morte é oficialmente permitida em 36 dos 50 estados. Cada Estado que permite a pena de morte possui diferentes leis e padrões quanto aos métodos, limites de idade e crimes que qualificam para esta penalização.
Os EUA são o segundo país onde mais pessoas são executadas anualmente, perdendo apenas para a República Popular da China.
Residente na Nova Zelândia, Henry Hargreaves ficou chocado ao chegar nos Estados Unidos e se deparar com algo tão desumano, bárbaro e ultrapassado para um país que investe tanto tempo moralizando sua democracia para o resto do mundo.
“No processo de pesquisa para o projeto, me deparei com afirmações de que 12 pessoas nos últimos 20 anos foram executadas erroneamente nos Estados Unidos. São só rumores, mas essas pessoas continuam mortas e não há esperanças de um novo julgamento para elas.”
Na série fotográfica, cada prato fala muito sobre a personalidade e o caráter de cada condenado. Em um dos pedidos, um cara pediu uma torta de nozes e disse que ia “guardar para depois”.
“Foi dito que este rapaz era doente mental, então provavelmente nunca deveria ter sido executado. Isso também faz pensar: será que ele realmente achava que ia poder comer isso mais tarde? Será que ele entendia o que estava para acontecer?”
Intrigante!
Questionado pela VICE sobre as possíveis críticas que as pessoas poderiam fazer por esta série “humanizar” assassinos, Henry respondeu:
“Eu meio que continuo essa tendência de dar atenção a assassinos em série. Minha motivação para o projeto veio da minha própria curiosidade. Eu queria saber como essas refeições pareceriam. Eu não estava buscando chocar ou construir minha reputação através do sofrimento de outras pessoas – esta, definitivamente não era a intenção. Vejo que meu trabalho como artista e fotógrafo é apresentar algo e permitir que as pessoas tirem suas próprias conclusões. Acho que não precisamos resolver o mistério para ninguém. Acredito que, como toda boa arte, você também está segurando o espelho para o espectador e ele está vendo algo sobre si mesmo em reação à obra.”
| via VICE
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