Food Design
Artista transforma trechos culinários da literatura em série fotográfica
por Valéria Scavone
Fictitious Dishes, uma série fotográfica feita pela designer gráfica Dinah Fried que retrata, deliciosamente, momentos culinários de livros da literatura clássica e contemporânea.
O “Pratos Fictícios” é um livro feito com as refeições mais memoráveis da literatura: desde “O Jardim Secreto” até “Medo e Delírio em Las Vegas”. Cada uma das fotografias acompanha trecho em que a receita aparece nos livros, bem como algum fato curioso sobre o autor ou sobre os alimentos.
O projeto de Dinah Fried começou com um exercício modesto com cinco fotografias quando ela ainda estava na faculdade de design. O conceito a fez apaixonar-se e ir além até concretizá-lo em forma de livro.
Fried reflete sobre seu caso de amor a longo prazo com os detalhes da culinária na ficção, que possuem uma capacidade multissensorial única para transportar o leitor para um mundo específico e, assim, conceder o dom singular de memórias afetivas.
Alice no País das Maravilhas – Lewis Carroll
“’Tome um pouco de vinho, a Lebre de Março ofereceu em um tom encorajador. Alice olhou ao redor por sobre a mesa e não havia nada senão chá.”
Moby Dick – Hernan Melville
“Nosso apetites sendo aguçados pela congelante viagem, e em particular, Queequeng vendo seu prato de frutos do mar favorito a sua frente, e a sopa de mariscos estando excelente, nós partimos para uma grande expedição…”
O Jardim Secreto – Frances Burnett
“Ovos assados eram um luxo de que eles nunca tinham ouvido falar. E batatas muito quentes com sal e manteiga fresca eram alimento digno de um rei da floresta.”
O Grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald
“Por sobre as mesas de bufete, decoradas com excelentes hors-d’oeuore, presuntos curados e especiarias amontoavam-se ao lado de saladas com desenhos de arlequins, porquinhos de pastelaria e perus enfeitiçados pela cor de oiro-escuro do forno”
On the Road – Jack Kerouac
“Mas já era tempo de cortar as lamentações e cair fora, então apanhei minha mochila, disse adeus ao velho recepcionista sentado ao. lado de sua escarradeira, e fui comer. Devorei outra torta de maçã com sorvete — estavam ficando cada vez melhores à medida que eu avançava dentro de Iowa, a torta crescia e o sorvete ficava ainda mais saboroso.”
Em Busca do Tempo Perdido – Marcel Proust
“Um dia, no inverno, como eu cheguei em casa, minha mãe, vendo que eu estava com frio, sugeriu que, ao contrário do meu hábito, eu tomasse um pouco de chá. Recusei-me em primeiro lugar e, em seguida, eu não sei por que, mudei de idéia. Ela enviou-me um daqueles bolos gordos chamados petites madeleines…”
“Muitas das memórias mais vívidas dos livros, são das refeições dos personagens. Eu li Heidi há mais de 20 anos, mas eu ainda posso saborear o queijo tostado que seu avô servia a ela, e ainda posso sentir a antecipação e o conforto de sua experiência em assistir o avô abrindo fogo.
Lembro-me das refeições no momento em que elas tem significado forte em alguma história: os cupcakes de hortelã da Melissa no “Chip on the Corrections”, por exemplo, marco o seu caso de amor, sua queda profissional e o desenrolar geral”.
Todas as fotografias de Dinah Fried são inteiramente pensadas. Algumas, tem uma conotação distinta de meta-sátira. “A Confederação dos Burros”, por exemplo, é a cultura norte americana comestível final> um cachorro-quente em uma toalha típica de restaurante americano.
A Confederação dos Burros – John Kennedy Toole
“Parando antes na garagem estreita, ele cheirou a fumaça do Paraíso com grande prazer sensorial, os pelos salientes em sua narina analisaram, catalogaram, categorizaram e classificaram odores distintos do cachorro-quente com mostarda e lubrificante.”
O Sol é para Todos – Harper Lee
“Meu Deus, Cal, o que é tudo isso?” Ele estava olhando para seu prato de café da manhã. Calpurnia disse, “O pai de Tom Robinson mandou junto a este frango esta manhã. Eu completei: “Você diga para ele que eu estou feliz de ter isso – aposto que eles não têm frango de café da manhã na Casa Branca.”
Oliver Twist – Charles Dickens
“Ele estava desesperado de fome e despreocupado com a miséria. Ele se levantou da mesa e, aproximando-se do chefe, prato e colher em mãos, disse, de alguma forma assustado com sua própria imprudência: “Por favor, senhor, eu quero mais.”
Medo e Delírio em Las Vegas – Hunter S. Thompson
“Abriu outra garrafa de tequila, que começou a beber como se fosse água. Então pegou uma toranja e cortou a fruta ao meio com uma minimagnum da Gerber – uma faca de caça de aço inoxidável, com uma lâmina afiada como uma navalha.”
A Metamorfose – Franz Kafka
“Eram hortaliças velhas e meio podres, ossos do jantar da noite anterior, cobertos de um molho branco solidificado; uvas e amêndoas, era um pedaço de queijo que Gregor dois dias antes teria considerado intragável, era uma côdea de pão duro, um pão com manteiga sem sal e outro com manteiga salgada.”
Heidi – Johanna Spyri
“A chaleira logo começou a ferver, enquanto o velho segurava um pedaço de queijo com um longo garfo de ferro sobre o fogo, girando e girando até ele ficar tostado e com uma bela cor dourada em cada lado. Heidi assistia a tudo com um olhar curioso”
O Apanhador no Campo de Centeio – J. D. Salinger
“Quando estou fora de casa, geralmente só como sanduíches de queijo e leite maltado. Não é muita coisa, mas o leite maltado tem um monte de vitaminas.”
Redoma de vidro – Sylvia Plath
“Então me servi de abacate e a salada de carne de siri. Abacate é minha fruta favorita. Todo domingo meu avô costumava trazer um abacate para mim, escondido no fundo de sua mala executiva, debaixo de seiscamisas sujas e tirinhas do jornal de domingo.”
As páginas finais do Fictitious Dishes, que parece ser um prazer absoluto em sua totalidade, apresenta uma das dedicatórias mais bonitas:
“Obrigada e amor ao meu pai, por me ensinar a ler” – Dinah Fried
[Crédito de Imagens: Dinah Fried]
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