Apimentadas
Sobre a polêmica da maionese de Rita Lobo com seus seguidores
por Valéria Scavone
Como a grande maioria de vocês deve ter visto, nos últimos dias, bombou na internet a resposta de Rita Lobo à pergunta de um de seus seguidores quanto à substituição de ingredientes em uma receita tradicional de maionese.
“Por que você não ensina maionese com óleo de coco e iogurte ao invés de gema e óleo“, e Rita respondeu: “1) porque não é maionese; 2) trate seu distúrbio alimentar“.
1) Maionese é gema de ovo, óleo e limão ou vinagre. Fora isso, realmente não é maionese, mas pode-se, à partir da receita tradicional, utilizar e incorporar outros ingredientes para obter cremes com texturas que fazem as vezes da maionese, concorda? Não há problema nenhum em ter como base uma receita original para transformar a essência do prato com outros ingredientes (especialmente quando queremos utilizar apenas o que temos disponível em nossas geladeiras). E essa pode ter sido a pegada da pergunta do seu seguidor.
2) Não é todo mundo que sabe o que são distúrbios alimentares e, a forma como você colocou, não é facilmente digerido para quem não faz a mínima ideia sobre o assunto. Responder ao cidadão porque não é maionese, está de bom tamanho, quando está definido o tema da pauta: maionese tradicional. Fora isso, responder à pergunta de um dos seus seguidores sem esclarecer o que é “distúrbio alimentar”, pareceu um tapa na cara sem justa causa…
Você fez a escolha de colocar na sua cozinha alimentos saudáveis, excluindo processados, levando em consideração um padrão tradicional. Se optou ter o tradicional como padrão na sua cozinha, ok! Mas considerar que o tradicional também seja o modelo absoluto em todas as situações, assuntos, receitas e questionamentos alimentares de todas as pessoas no mundo, especialmente as sem esclarecimentos, é admitir um pensamento horizontal e pragmático no que diz respeito à filosofia da comida de verdade.
No mais, este post foi escrito porque vieram vários questionamentos ao me deparar com o assunto em questão viralizando na internet; como por exemplo: por que estamos tão desorientados quando o assunto é comer, sendo esta, uma ação natural e vital do ser humano? Por que algumas escolhas são boas para uns, demonizadas por outros, ou diagnosticadas como distúrbio alimentar por outro grupo? Onde será que está o divisor de águas que pode orientar a desordem causada em nossas cabeças pelo mainstrream nutricional alavancado na era digital?
Ainda sem respostas, o que mais me preocupa desse “blablablá” todo que criei, é saber qual o nível de distúrbio alimentar que estamos inseridos nos pontos de vistas de verdades absolutas?
“A tradição mais profunda é a que vem da pré-história; noção alguma de propriedade; nenhuma instituição do sagrado; acordo sim, chefia não; de escola nem sinal” – Agostinho da Silva, filósofo, poeta e ensaísta português.
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3 comentários
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Por Adriana j | fevereiro 26, 2017 às 21:41| Responder
Polêmica por todos os lados e uns questionamentos densos… dá até uma sensação estranha de pensar que tudo isso está relacionado à comida.
Hoje vi o Instagram da Rita Lobo e na última postagem ela compartilhou uma tábua de petiscos descrevendo sugestões bem controvérsias ao que diz respeito a comida de verdade. Ela fala de lata de grão de bico, ou lata de feijão branco… fiquei a pensar se a sugestão do grão de bico e do feijão em lata tem elementos nutricionais relevantes se comparados com os grãos que não são enlatados… e se os enlatados são tão assim comidas de verdade… Esse tipo de confusão que causou em mim tem a ver com os questionamentos da Valeria no final desse texto.Por Angelica | fevereiro 18, 2017 às 22:38| ResponderPerfeito! O “trate seu distúrbio alimentar” me incomodou bastante; sou intolerante à lactose e preciso adaptar a maioria das receitas.
Por Luciana | fevereiro 17, 2017 às 17:45| ResponderDeixe um comentário Cancelar resposta
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