Meu primeiro contato com o bolo da Dona Maria foi no aniversário de uma das moradoras da cidade de São Francisco Xavier. 

De abacaxi com doce de leite e chantilly, depois da minha primeira mordida, perdi a elegância no meio da festa. Não consegui enxergar mais ninguém do meu lado e tive ali, no meio de todo mundo, uma relação íntima com o bolo.

Pela primeira vez, estava experimentando uma explosão de sabores e texturas sem censura.

Ouso dizer que foi o bolo mais macio, mais molhadinho e mais equilibrado de sabores que já provei em toda a minha vida.

Foi então que fiquei curiosa para conhecer as mãos responsáveis por adoçar a boca de uma comunidade de 4 mil habitantes e tive a honra de fazer uma visita à ela.

Ao chegar na casa da Dona Maria, há 900 metros de altitude, fomos recebidos na melhor parte da casa: a cozinha.

Com a batedeira ligada, um bolo de nozes pronto para ser recheado e decorado e um cheirinho característico de bolo de avó, nos deparamos com esta vista incrível!

Detalhe que contribui para que os bolos de Dona Maria sejam tão especiais.

Boleira há mais de 40 anos, Dona Maria é um ícone na cidade de São Francisco Xavier.

Na grande maioria dos aniversários e de comemorações especiais da cidade, ela marca presença com seus bolos macios e com decoração clássica.

Em qualquer roda em que o ato de comer o doce esteja acontecendo, é unânime a sinfonia de “Huuuuuummmm” – assim, bem longo mesmo!

Aos 15 anos, ao lado de sua mãe, Dona Maria aprendeu a fazer bolos na fornalha – um forno feito com barro branco, parecido com o de pizza.

O processo consiste em colocar lenha, atear fogo, chegar na temperatura desejada, retirar a lenha e utilizar o forno para assar os alimentos.

Na produção, mãe e filha faziam cerca de 40 bolos. Batidos à mão, todos eram assados na fornalha de uma única vez.

Um processo bastante artesanal que, provavelmente, deu à Dona Maria, habilidades únicas que refletem até hoje em cada pedaço de bolo.

Aqui na cidade de São Francisco Xavier, o primeiro bolo que ela fez foi para sua filha em seu primeiro aniversário de vida.

Desde então, nunca mais parou. E sua oferta vai desde os mais simples, como o de fubá, até os mais elaborados de festas e casamentos de sabores diversos.

Em sua companhia na cozinha, está o Carlito, marido, companheiro e braço direito nos afazeres das encomendas.

Tivemos o prazer em conhece-lo e bater um papo enquanto comíamos pizza em rolo feita com uma massa incrivelmente deliciosa!

Macia e leve, harmonizava perfeitamente com a textura do recheio. Nada parecido com o que eu já havia comido antes.

Aliás, salgados também é uma das habilidades de Dona Maria, que já chegou a fazer 6 mil unidades em um único dia.

Este ano, ela preferiu concentrar-se apenas nos bolos, mas diz que não nega se alguém pede para alguma ocasião especial.

Tão delicada quanto seus bolos, foi a recepção de Dona Maria com o Comendo com os Olhos. Além da surpresa salgada, ela fez um bolinho especialmente para nós.

Com massa simples (ovos, farinha de trigo, açúcar, leite e fermento), a maciez é percebida ao encostar a faca no bolo para fazer o corte: desliza suavemente sem quase ter a necessidade de fazer o movimento de “serrar”.

E bem acompanhado de um cafezinho, claro!

Se o que é maravilhoso pode ficar excepcional, o valor dos bolos de Dona Maria contribui para isso.

Quase uma realidade inexistente na cidade de São Paulo, por exemplo, um bolo de nozes de aproximadamente 7,5 kg, custa R$ 90.

Os mais simples, como o californiano que ela nos serviu, sai por R$ 20 reais.

Quando vier a São Francisco Xavier, se tiver a oportunidade de provar os bolos da Dona Maria, você estará experimentando um pedaço do céu, que vem lá das montanhas, há 900 metros de altitude…!

Sentir o sabor e a essência da cidade de São Francisco Xavier, é um presente que você dará a você  mesmo. Por aqui, somos movidos pelo amor, solidariedade, pessoas especiais e sabores sem igual.

Agradecimentos: Rao, Dona Maria e Carlito

[Todas as imagens por Comendo com os Olhos]

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