Pede pipoca
Coxinha desde pequeno
por Redação
Uma garotinha com seus cinco aninhos de idade mais ou menos, caminhando saltitante, cachinhos louros reluzentes balançando para lá e para cá. Seria suficiente para eu morrer de ternura. Mas imaginem a mesma cena só que agora com a criança equilibrando uma voluptuosa coxinha de frango com o dobro do tamanho das suas mãozinhas. Entrou aquele cisco no meu olho.
A menininha na frente e o pai, um homem que estampava na cara um tipo de felicidade guardada há muito tempo, daquelas proibidas, como a maravilhosa sensação de beber o suco de laranja direto da caixinha sem a esposa perceber. Ele deu o maior presente em calorias e sabor para a princesinha do papai, mas tá rezando para que a mamãe não descubra.
Me chamou a atenção este retrato contemporâneo de um costume nada saudável, mas que proporciona uma alegria meio clandestina para as crianças. Principalmente aquelas que são criadas a base de uma alimentação totalmente saudável que, vá lá, é necessária e louvável sim, mas às vezes é chata como um punhado de quinoa no yogurte sabor nada.
“Tenho que registrar isso”, pensei. Mas a vergonha e o medo do pai da garota quase me fez engolir o smartphone, como faria um avestruz em pânico. Puxei da memória o que seria tão belo e que serviria de comparação. Listo aqui meus devaneios:
Anita Ekberg na Fontana de Trevi em La Dolce Vita de Felinni: felicidade suprema. Dela e do Mastroianni.
Woody, o vaqueiro, voltando pra casa em Toy Story: felicidade de um brinquedo ao encontrar seu dono que é o inverso do que eu vi.
Eu sentado em cima do balcão de um bar observando o Sr. Otacílio fritar as coxinhas, enquanto esperava ansiosamente pela minha, autorizada previamente por meu pai que jogava bilhar logo ali ao lado: ISSO!
Sim meu pai me levava para o bar e me pagava uma coxinha e um guaraná de garrafinha que eu mal conseguia segurar. Formação de caráter de uma criança rechonchuda mas feliz, que virou um jovem adulto sem problemas de auto-estima que come fibras no café da manhã.
Este texto não é só uma ode à coxinha. É mais que isso. É uma celebração da maior alegria da infância. A tradução em palavras de um sentimento. A exemplificação da alegria que sente uma criança com aquele conezinho de massa frita recheada na mão. Claro que não sou imbecil e sei que estamos falando de um alimento nada saudável que se consumido exageradamente pode sim causar grandes problemas. Tudo demais é veneno, já dizia a minha avó. Mas uma coxinha de vez em quando, gente? É formação de caráter!
Que me desculpem os pais macrobióticos, mas eu sou coxinha desde pequenininho.
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