Curiosidade
Por que os abutres não morrem de intoxicação alimentar?
por Valéria Scavone
Por fora, os abutres assemelham-se com os urubus e condores. Com hábitos necrófagos, estas aves de rapina de grande envergadura usam correntes de ar quente para planar, têm a cauda pequena e poucas penas na cabeça. Podem chegar a medir 1,10 metros de comprimento e, de asas abertas, até 3 metros atingindo peso de até 13,5 quilos e quando estão com fome, tornam-se extremamente agressivos.
Os abutres vivem com uma dieta de carne podre que, se ingerido da mesma forma por outras criaturas, o resultado seria uma grave intoxicação alimentar que poderia levar facilmente à morte.
Como estes animais suportam tanta podridão dentro deles, é um mistério, mas estudos recentes sugerem que os abutres têm desenvolvido, ao longo dos anos, uma evolução no estômago para lidar com seus hábitos alimentares extremamente grotescos.
Quando estes animais comem, eles devoram as carcaças podres até o osso. Se o bicho morto tiver uma pele muito dura e difícil para furar com o bico, os abutres apelam para continuar a alimentação, penetrando o orifício anal.
Consequentemente, a dieta destas aves não inclui apenas carne que está apodrecendo, mas também, fezes de animais que, provavelmente mataria a maioria dos outros bichos. Porém, os abutres e urubus são completamente imunes ao cocktail mortal de micróbios contidos em suas refeições nada apetitosas.
Para descobrir como que os abutres possuem esta imunidade, um grupo de pesquisadores internacionais gerou perfis de DNA à partir de comunidades de bactérias que vivem no rosto e no intestino dos abutres. Para a pesquisa, eles basearam-se em 50 aves dos Estados Unidos.
Isto permitiu que os estudiosos pudessem reconstruir semelhanças e diferenças entre as bactérias encontradas nos abutres de todo o hemisfério ocidental. A análise mostrou que algo radical acontece com as bactérias quando ingeridas e enquanto viaja através do intestino dos abutres.
Em média, a pele facial destas aves contém o DNA de cerca de 528 tipos diferentes de micro-organismos, ao passo que o intestino contém cerca de 76 tipos. Isto sugere que, no caminho até o intestino, a grande maioria destes micróbios morrem e, mesmo que uma boa parte ainda sobreviva, não é prejudicial aos abutres.
“Nossos resultados mostraram que, com o passar dos tempos, houve forte adaptação dos abutres ao lidar com digestão de bactérias tóxicas”, observou Michael Roggenbuck, membro da equipe de pesquisadores.
“Estes animais desenvolveram um sistema digestivo extremamente resistente, que, simplesmente age para destruir a maioria das bactérias perigosas que ingerem. Por outro lado, os abutres parecem ter desenvolvido uma tolerância em relação a algumas das toxinas bacterianas – espécies que matam outros animais, parecem florescer no intestino destes bichos”.
Quando Roggenbuck diz “bactérias mortais”, ele refere-se ao Cloristridium e à Fusobacterium – espécies causadoras de doenças. Os pesquisadores dizem que é possível que estes micróbios particulares estejam simplesmente vencendo a competição com outras bactérias no intestino.
Também é possível que estejam conferindo algum benefício para estes pássaros. Os investigadores suspeitam que poderia ser um pouco de ambos: enquanto outros micro-organismos são suscetíveis e superados pelas bactérias sobreviventes, os abutres também recebem um fluxo contínuo de nutrientes importantes quando as bactérias saem da carniça.
A descoberta sugere que os abutres (e provavelmente muitas outras aves) evoluíram um relacionamento bastante complexo e íntimo com suas bactérias intestinais. E, de fato, o DNA das presas foi completamente degradado nas amostras do intestino tiradas da maioria dos abutres, sugerindo que, o trato gastrointestinal destas aves é extremamente seletivo.
[via Nature.com]
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1 comentários
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Por OLAVO BAIA XAVIER JU | março 11, 2015 às 19:10| Responder
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CONSIDERO MUITO IMPORTANTE A INGESTÃO DE ALIMENTOS EM ESTADO DE PUTREFAÇÃO PELOS ABUTRES,SEM SEQUELA DE DOENÇAS A ESTES ANIMAIS ,AS BACTÉRIAS ALOJADAS NO ESTÔMAGO DESTES ANIMAIS DEVERIAM SER ESTUDADAS PARA COMBATES DE DOENÇAS EM HUMANOS COMO GASTRITES,,ULCERAS ESTOMACAIS E OUTRAS DO SISTEMA DIGESTIVO.