Comportamento
Estudantes publicam livro de receitas global com histórias de família
por Redação
Em Washington, existe a Capital City Public Charter School, uma escola que é tipo uma mini Nações Unidas. A maioria dos 981 alunos têm origens espalhadas pelo globo: El Salvador, Nigéria, Vietnã, nacionalidades distintas que compõem o quadro dessa escola multi cultural.
Alfabetizar esses jovens, não é tarefa fácil. Especialmente quando há uma concentração considerável de diversas origens e culturas. Pensando nisso, professores de português e redação iniciaram um projeto da publicação de um livro. Eles escolheram um tema no qual todos poderiam se relacionar e gerar espaço para a expressão cultural de seus países de origem. E chegaram a conclusão que comida seria a melhor transparência da essência de cada estudante da escola.
Para dar forma ao projeto, os treinadores de escrita pediram que os alunos pensassem em uma receita familiar com uma narrativa/história de fundo e, depois, escrevessem um ensaio sobre esse prato. O resultado gerou um livro de receitas de cozinha global com 81 histórias compostas com um toque sincero, revelando que o tom da narrativa, pode ser o passo mais importante em qualquer receita.
A iniciativa foi tão inspiradora que os estudantes capricharam na redação ao escreverem sobre seus pratos prediletos deixando explícito seus pensamentos e a verdade de que suas bocas enchiam de água: “À medida que o vapor do macarrão se elevava, o cheiro parecia ter caído do céu“, escreveu Mark St. John Pete, sobre o macarrão com queijo de sua avó, que foi degustado em torno de uma mesa farta de comida e familiares.
Outros se concentraram em menos afeto focando apenas nos alimentos que seus pais preparavam: “Os tamales não apodrecem porque podem estar em um frigorífico durante semanas e ter a mesma aparência“, relatou Rolando Fuentes, que perdeu o gosto pelos pacotinhos de massa de milho feitos por sua mãe nativa de El Salvador, mas deixou sobressair sua sinceridade ao escrever a história da receita.
Muitos dos alunos que participaram do projeto desse livro maravilhoso, estão prestes a entrar na faculdade. Escrever histórias focadas nos alimentos não só os ajudou a tornarem-se melhores escritores, mas também, forçou-os a mergulhar em suas identidades e aprimorar suas habilidades de comunicação com suas famílias, reforçando assim, conexões importantes antes de saírem de casa para o próximo passo de suas vidas: a universidade.
No último dia do projeto, cada aluno levou seu prato para compartilhar com os colegas. Todos feitos com tanto cuidado quanto suas escritas. Alguns até quiseram ler em voz alta seus textos para criar, ainda mais, um relacionamento afetivo entre tudo e todos. “É uma maneira divertida de fazer com que os alunos da Capital City Public Charter School pensem criticamente sobre quem são para contar suas histórias através de um mecanismo no qual o resultado, é que todos comecem a comer“, disse Zachary Clark, diretor escola.
A seguir, você confere 3 das 81 histórias do livro traduzidas com a imagem das receitas (em inglês).
Nuegados, Que Rico! por Janet Arevalo
Origem da receita: El Salvador
“Sempre que podia, ajudava minha mãe a fazer nuegados. Descascava a mandioca com uma faca de plástico por segurança exigida por ela. Meu rosto brilhava mais que o sol quando minha mãe deixava as cair as bolas de mandioca na fogueira. O calor era tão intenso que, ao longo do tempo, mamãe perdeu quase todos os cílios… Eu a ajudava embalar os pacotinhos com cinco nuegados, mas sempre dava uma mordida em um deles antes de colocá-lo de volta no saquinho. Eu chamava de teste de sabor para os clientes com satisfação garantida. E minha mãe sempre ria alto quando me via fazendo isso. Tanto que poderia ser ouvida a milhas de distância! Mas como poderia eu, deixar de morder aqueles deliciosos nuegados? (claro que ela tirava o doce mordido do pacote). O cheiro do doce pronto era um delírio! Misturava-se com minha saliva e o ato de morder um nuegado era espontâneo. Depois de todos os doces prontos e embalados, minha mãe saía às ruas para vender seu delicioso doce para as pessoas com água na boca“.
Mom´s Chili Bowl, por Idriis Hill
Origem da receita: Estados Unidos
“Quando minha mãe estava no Ensino Fundamental, adorava comer chili. Há dois quarteirões de sua escola, tinha um senhor afro-americano, magro, que usava chapéu e tinha bigode, e vendia, em seu carrinho, o chili que minha mãe tanto amava. Mr. Steven se orgulhava de sua pequena loja, que era apenas um pequeno carrinho, mas absolutamente repleto de bons sabores. Todos os dias, depois da escola, minha mãe e seus amigos iam comer o chili do Sr. Steven, o melhor da cidade na época. Certo dia, minha mãe resolveu pedir a receita. Porém, Sr. Steven disse que até poderia compartilhar, mas que igual e tão gostoso quanto o dele, ela não encontraria em nenhum lugar desse mundo. Foi então que ela decidiu inventar sua própria receita, a qual compartilho com vocês aqui nesse livro“.
Okra Soup, por Chidinma Lantion
Origem da receita: Nigéria
“Minha mãe veio para este país no Halloween de 1990 (ela ainda não entende o propósito do feriado). Foi uma experiência. Ao chegar, era uma nigeriana nos Estados Unidos, de olhos claros e arregalados, e que nunca estivera fora de seu país, mas que era corajosa o suficiente para entrar no inesperado. Ela estava disposta a deixar para trás sua outra vida. Estava escuro e frio, e ela sentia que as crianças de máscaras eram uma projeção do que ela sentia por dentro. Ela foi para casa de seu primo, em Rockville, Maryland, e a primeira coisa que eles tentaram fazer com que ela comesse, foi pizza! Mas mesmo assim, estava difícil. Na pizza, tinha muitos sabores novos e incomuns que ela não estava acostumada. E tudo junto e misturado em uma única fatia, não satisfez minha mãe. E então, no meio da noite fria, ela pediu que seu primo saísse e comprasse uma sopa de quiabo porque, depois de uma longa viagem para um outro país, ela precisava de algo para lembrá-la de sua casa e do que estava acostumada. Precisava sentir a viscosidade e o sabor do quiabo para deixá-la entender que, mesmo longe de casa e com tantas mudanças, ela teria sempre o conforto de saber que na comida, ela teria o aconchego de seu lar interior“.
O Irresistible Atole de Elote, por Jose Rivas
Origem da receita: El Salvador
“Embora eu tenha nascido em 1999, sinto como se minha vida não tivesse começado antes dos 5 anos de idade. Mesmo muitas pessoas dizem que se lembram de tudo desde que estavam no útero – o que, aliás, acho pouco provável – tenho algumas lembranças de quando eu era garotinho. Uma das mais vívidas é beber atole de elote em um pequeno restaurante em El Salvador perto do bairro onde eu morava. Atole de elote é feito de milho, leite e canela. Por trás da bebida, existem muitas crenças tradicionais que envolvem o processo de preparo. Acredita-se, por exemplo, que apenas uma pessoa pode preparar o atole de elote, ou então, terá um gosto ruim; e que as mulheres grávidas e qualquer pessoa de mau humor não pode fazer a bebida porque o resultado será bem amargo. Escrever sobre esta bebida quente de milho, fez-me expor uma tradição semanal de desfrutar do atole de elote com meu falecido pai, bem como, lembrar o quanto a bebida me ajudou a sentir-me mais em casa depois que me mudei para os EUA“.
Intitulado Delicious Havoc, o livro está em pré venda por US$ 19,99. Para reservar o seu, clique aqui.
[Crédito de Imagens: NPR e Delicious Havoc]
| via NPR
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